O momento é delicado e bastante desconfortável. Uma enorme sensação de impotência nos domina. Medo, angústia, solidão, saudade, tristeza, são apenas alguns dos sentimentos que se manifestam em todos nós nestes dias de isolamento e incertezas. Há quem esteja passando por dificuldades financeiras, outros enfrentando a própria doença e também os que estão sofrendo com a dor ou mesmo a perda de pessoas próximas. Da mesma forma, pra muita gente o isolamento acontece de maneira leve, produtiva e até mesmo divertida. Tem muitos que precisam trabalhar e muitos destes na linha de frente, nos hospitais e postos de saúde. Cada um de nós está vivendo o seu instante de maneira única e da mesma forma são nossos sentimentos nessa hora. Únicos.

Todos estamos carecendo de afeto, de carinho, de um abraço, mesmo que virtual. E cada um tem buscado esse afago de alguma maneira. Fazendo vídeo chamadas para familiares e amigos, escrevendo diários, fazendo cursos online, cozinhando, lendo. A arte tem um enorme poder para preencher alguns espaços em circunstâncias difíceis como a que estamos vivendo. Pensando neste universo íntimo individual, proponho usarmos a fotografia e outras formas de expressão artística como um escape, uma autoterapia, um grito de silêncio. Que tal tentarmos colocar essas sensações pra fora através de temas de produção coletiva? Fotografias, pinturas, textos, vídeos, colagens, música, o que for. A maneira como iremos nos expressar, na verdade é a que menos importa.

Não se trata de uma competição, de um concurso, mas sim de cooperação, intercâmbio, solidariedade, aconchego.  E que esse cosmo de produção possa, lá na frente, quando tudo passar, nos narrar essa história que estamos vivendo, de maneira heterogênea sim, mas única, em um sentido apropriado de união. Trata-se de um convite para caminharmos juntos e passarmos, “de mãos dadas”, por esse espinhoso trajeto que agora percorremos. E esse chamado é pra todos que desejem de alguma forma, somar, para que possamos estar mais inseparáveis que nunca, mesmo que distantes.

A partir de hoje estarei propondo temas, a cada três ou quatro dias. Argumentos que dizem respeito ao que estamos vivendo, que nos farão pensar, refletir, chorar, sorrir e certamente produzir. Mas mesmo que em alguns períodos não se consiga produzir nada, que a apreensão nos impeça de criar (pois isso é factível de acontecer), não tenha medo, não desassossegue. Não se trata de um jogo, de uma disputa, onde se definem os melhores ou piores. Esse é simplesmente um movimento de cooperação, onde o propósito final é sairmos dessa juntos, fortes e indubitavelmente transformados.

Nilo Biazzetto Neto –  Fotógrafo e diretor da Portfolio Escola de Fotografia